Faculdade Sudamérica

CATAGUASES – UMA CIDADE MULTIFACETADA

Como não falar carinhosamente da cidade que me acolheu em 23 de junho de 1958? Recordo-me da minha infância pelas suas avenidas arborizadas que me fascinavam não só por suas extensões, como também pela beleza das sombras que me protegiam do sol escaldante dos verões abrasadores, pelos belos desenhos nas calçadas que incitavam a minha imaginação, mas também pelo verde, ainda abundante, que circundava a cidade

Lembro-me perfeitamente de quando pegávamos leite na antiga leiteria que havia na praça da estação. Saía, muitas vezes a contragosto, do bairro em que resido até hoje, Granjaria, a pé, por essas avenidas que pareciam intermináveis para as pequenas pernas de um menino. E ia admirando as a suas casas, as belas casas, patrimônio cultural ainda não valorizado.
Que arquitetura invejável para outras cidades da região! Cataguases sempre foi moderna, de interior, mas moderna. Não apenas pela vasta arquitetura do gênero ou pelas obras de artistas reconhecidos nacional e internacionalmente, mas por seu estilo despojado, transgressor e ousado de ser. E aí basta citar a igreja Santa Rita, projetada por Niemeyer, que, de certa forma, na época dos meus “verdes anos”, representava uma afronta às demais da região.
Suas praças ladrilhavam os meus olhos de curiosidade e afetividade e, naquela época, as duas principais – Santa Rita e Rui Barbosa- eram do povo. Era na praça que os rapazes caminhavam de um lado e as moças, do outro – tudo isso em busca de um sonho, uma conquista, um namoro, ou quem sabe, até casamento... Além de divertido, era barato. Os jovens, nessa época, não gastavam muito dinheiro para a diversão, usavam da criatividade. Por incrível que pareça, pareciam mais felizes, encantados com as pequenas felicidades. Essas, seriam até imbecis nos dias atuais, mas eram verdadeiras – girassóis que buscavam a luz e encontravam-na.
Cataguases é moderna até no nome. Não tem nome de gente ou de santo, muito menos de rio ou pedra. Tem um nome formado por aglutinação, um nome que segundo os historiadores teria sua origem em uma tribo indígena, a tribo dos “Catu-auás”, cujo significado seria “gente boa”. E esse vanguardismo muito é devido ao industrial e poeta Francisco Inácio Peixoto que inovou a cidade no campo cultural, conectando a amada cidade a vários artistas de todos os campos: literatura, arquitetura, pintura, etc.
E como não falar do Colégio Cataguases com seu Grêmio Ascânio Lopes? Foi nesse o local de origem das ideias da Verde, revista modernista formada por um grupo de alunos que revolucionaram a história cultural da cidade. Como não falar dos frutos herdados dessa época! Fernando Cesário, Joaquim Branco, Ronaldo Werneck, Lina Tâmega, Luiz Rufato e tantos outros anônimos que têm espalhado poesia e arte por todos os cantos. Cataguases é uma transgressão em relação a outras cidades bem comportadas e que não se aventuraram pelos caminhos da arte, da imaginação e da criação.
As lembranças do colégio me vêm a todo momento, de repente. Época áurea, de Colégio cheio. Quem não se lembra da calça marrom e blusa bege com o escudo da escola! Na calça havia uma nervura no meio da perna. Achava muito estranho aquilo, mas diferente. E os corredores lotados de alunos na hora da troca das aulas – alegria e confusão – que tempo “bão”! O local preferido por mim nas aulas de educação física não era o campo, como a maioria dos meninos, mas a piscina, onde aprendíamos a nadar com o professor “Moacir bobeira”, que de bobo não tinha nada e a educação física funcionava de fato, não era uma mera disciplina. O campo de futebol tinha um gramado bonito e a bola rodava com paixão por quem gostava, menos eu, pois até hoje sou da água.
Cidade industrial já foi seu título também e, aí, surgem nas minhas retinas imagens de suas ruas de paralelepípedos infestadas por uma multidão de operários dirigindo suas bicicletas _ e isso _era moderno também. Como era moderno uma pequena cidade do interior de Minas preocupar-se com o cinema e a literatura, ensinando pássaros sem asas a voar mesmo assim, pois essa viagem não tem fim e sempre chegarão e partirão novas personagens, novos cataguasenses que aprenderão a amar também este lugar que é “ demais”, parte do solo das Gerais.
Ao completar 146 anos, que presente poderia eu dar-lhe senão o meu afeto transubstanciado em palavras que acariciam a sua alma, que será sempre uma jovem acolhedora, terna, aventureira e transgressora para quem a ama e moderna para os outros. Feliz aniversário!
Humberto Mendonça da Costa

 


Data de Publicação: 07/09/2023
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